segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Última atividade de 2013 (20/12)

Tema: Implicações de uma abordagem ecológica do desenvolvimento
Palestrante: Dr. Fernando Augusto Ramos Pontes 
Local: Laboratório de Filosofia (Altos IFCH)
Data: 20/12/2012 às 17hs


RESUMO
Implicações de uma abordagem ecológica do desenvolvimento
Fernando Augusto Ramos Pontes 
Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará (NTPC-UFPa); farp1304@gmail.com – Bolsista produtividade cientifica CNPq 
Ecologia do desenvolvimento, perspectiva sistêmica, relação  

Pretende-se discutir nessa apresentação um esboço inicial das implicações envolvidas na apropriação de uma abordagem ecológica sobre o desenvolvimento humano. É evidente que a exaustão da temática proposta encontra-se além dos limites de texto e de tempo envolvida para esta apresentação, o que implica necessariamente em na utilização de somente alguns recortes, desenvolvimentos posteriores são pretendidos de serem desenvolvidos em outras oportunidades. Procurar-se-á discutir os comprometimentos envolvidos no nível da transdisciplinariedade, do privilégio do estudo relacional, da necessidade de contextualização e de infinitas conexões e de posturas éticas e politicas implicadas. 
Se considerarmos que, de uma forma inicial, o conceito de desenvolvimento se refere a mudanças de padrão comportamental decorrido ao longo da ontogênese, essa definição, mesmo que com suas deficiências implícitas, é capaz de aglutinar diversas dimensões de desenvolvimento, tais como a cognitiva, emocional e social, compatíveis por sua vez, com os diversos sistemas teóricos, e seus diferentes enfoques e predileções de estudo. Desse modo, dos dois termos a serem associados, o de ecologia é o que definirá as principais implicações aqui a serem consideradas, e é nesse sentido que pretendo estender minha exposição. 
A palavra Ecologia é proveniente do grego oikos (lar), refere-se ao o estudo do lar Terra. Mais precisamente, poderíamos dizer. em conjunto com Capra (1996), que é o estudo das relações que interligam todos os membros do lar Terra. Este termo foi introduzido em 1866 pelo biólogo alemão Ernst Haeckel, que o definiu como a ciência das relações entre o organismo e o mundo externo circunvizinho. 
Por isso, o primeiro parâmetro e consequentemente implicação a ser estabelecida é que o termo Ecologia não se restringe ao escopo de somente uma disciplina. De fato, o conceito de ecologia é transdisciplinar e aqui defendemos que assume um caráter paradigmático, no sentido que reflete, como estabelecido por Morin (2001), um “Conjunto das relações fundamentais de associação e/ou de oposição entre um número restrito de noções-chave, relações essas que vão comandar-controlar todos os pensamentos, todos os discursos, todas as teorias” (pag. 258), ou seja, funcionam como filtros que orientam o foco de nossa atenção e estruturam nossa visão de mundo. Esse parâmetro-implicação estabelece que a perspectiva transdisciplinar é inerente a essa pesrpectiva. Mais detalhes decorrentes dessa implicação serão discutidos mais abaixo em termos das conexões estabelecidas. 
Essa visão paradigmática que se concretiza em uma perspectiva da ecologia enquanto disciplina, é a que as coisas não possuem propriedades intrínsecas, todas as propriedades fluem de suas relações. Isso é, entender as propriedades das partes a partir da dinâmica do todo, pois essas relações são relações dinâmicas, a única maneira de entender a parte é entender a sua relação com o todo. Desse modo, uma segunda implicação é o foco nas relações, foco esse que deve ser entendido tanto no seu sentido amplo, ou seja, relação entre fenômenos a serem estudados, tanto quanto no seu sentido estrito, enquanto relacionamento interpessoal. Em um caso com em outro a unidade de análise está dirigida para o que ocorre entre. Desse modo, para fins de estudo do desenvolvimento, o relacionamento interpessoal se torna um objeto privilegiado. 
Outra decorrência do privilégio do relacionamento interpessoal no estudo do desenvolvimento está em assumir que unidade mínima de análise é a díade. Essa determinação não implica em negligenciar a existências das características do sujeito como um fenômeno a ser descartado, mas que tais características devem ser elas próprias contextualizadas, ou seja, tais características só podem ser concebidas enquanto resultantes de relações de propriedades do sujeito (pro ex., neurofisiológicas ou em termos conceituais, cognitivas e afetivas) reveladas dentro de contextos relacionais, tal como o diádico, institucional ou cultural. 
O foco nas relações implica também em estabelecer conexões, ou em outras palavras contextualizar. As conexões podem ser estabelecidas entre sistemas menores, como neurofisiológico, com maiores, por exemplo, o de uma relação mãe–criança, uma relação maior em que esta relação mãe-criança se situa (sistema familiar) e uma rede de relações em que esta família compartilha (rede de apoio ou vizinhança) ou uma cultura. É evidente que essas conexões perpassam por conceitos de diferentes disciplinas, da química à fisiologia, da fisiologia à neuro, da neuro á psicologia, da psicologia à sociologia, e assim por diante. Desse modo, a perspectiva ecológica implica em perpassar por um conjunto de barreiras de disciplinas artificialmente delimitadas, sobrepujar territórios disciplinares, pois os fenômenos do desenvolvimento em uma perspectiva ecológica não são propriedades de uma disciplina particular. Nesse sentido, seria mais adequado falar em ciência do desenvolvimento humano como um espectro de um conjunto de disciplinas relacionadas. 
Por final a última implicação que pretendo abordar refere-se a mais complexa e difícil de um cientista optar, pois no seu treino fracionado do conhecimento foi acostumado com as clássicas separações entre conhecimento teórico e prático, entre a oposição da ciência básica com a aplicada. No limite, assumir uma perspectiva ecológica sobre o desenvolvimento pressupõe suplantar os limites estanques entre a academia e a vida cotidiana. Se pensarmos no conjunto de redes de conexões envolvidas em qualquer objeto de estudo, no último estremo o cientista é forçado assumir uma postura ética e politica. De modo que, não basta assumir uma postura ecológica no micromundo da academia sem refletir sobre as conexões que estão implicadas no seu conhecimento produzido. No limite em um elo que defini responsabilidades sobre o seu fazer científico. É neste sentido que o elo da cadeia criada se volta recursivamente sobre o seu objeto de estudo e fecha-se um ciclo que realimenta a opção por um objeto e problema de investigação. Neste caminho, não há mais espaço para a produção de um saber asséptico, para uma ciência neutra e o cientista vê a sua ação científica contextualizada por opções que irremediavelmente tem de tomar. 

Referências Bibliográficas 

CAPRA, F. (1996) A Teia da vida: Uma compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo : Cultrix. 

MORIN, E. (2001). Ciência como consciência. Tradução de: Maria D. Alexandre e Maria Alice Sampaio Dória. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

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