Tema: Implicações de uma abordagem ecológica do desenvolvimento
Palestrante: Dr. Fernando Augusto Ramos Pontes
Local: Laboratório de Filosofia (Altos IFCH)
Data: 20/12/2012 às 17hs
RESUMO
Implicações de uma abordagem ecológica do
desenvolvimento
Fernando Augusto Ramos Pontes
Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento,
Universidade Federal do Pará (NTPC-UFPa); farp1304@gmail.com –
Bolsista produtividade cientifica CNPq
Ecologia do desenvolvimento, perspectiva
sistêmica, relação
Pretende-se discutir nessa
apresentação um esboço inicial das implicações envolvidas na apropriação de uma
abordagem ecológica sobre o desenvolvimento humano. É evidente que a exaustão
da temática proposta encontra-se além dos limites de texto e de tempo envolvida
para esta apresentação, o que implica necessariamente em na utilização de
somente alguns recortes, desenvolvimentos posteriores são pretendidos de serem
desenvolvidos em outras oportunidades. Procurar-se-á discutir os
comprometimentos envolvidos no nível da transdisciplinariedade, do privilégio do estudo relacional, da
necessidade de contextualização e de infinitas conexões e de posturas éticas e
politicas implicadas.
Se considerarmos que, de
uma forma inicial, o conceito de desenvolvimento se
refere a mudanças de padrão comportamental decorrido ao
longo da ontogênese, essa definição, mesmo que com suas deficiências
implícitas, é capaz de aglutinar diversas dimensões de desenvolvimento, tais
como a cognitiva, emocional e social, compatíveis por sua vez, com os diversos
sistemas teóricos, e seus diferentes enfoques e predileções de
estudo. Desse modo, dos dois termos a serem associados, o
de ecologia é o que definirá as principais implicações aqui
a serem consideradas, e é nesse sentido que pretendo estender minha exposição.
A palavra Ecologia é proveniente
do grego oikos (lar), refere-se ao o estudo do lar Terra.
Mais precisamente, poderíamos dizer. em conjunto com Capra (1996), que
é o estudo das relações que interligam todos os membros do lar
Terra. Este termo foi introduzido em 1866 pelo biólogo alemão Ernst Haeckel, que o definiu como a ciência das relações
entre o organismo e o mundo externo circunvizinho.
Por isso, o primeiro parâmetro e
consequentemente implicação a ser estabelecida é que o termo Ecologia não se
restringe ao escopo de somente uma disciplina. De fato, o
conceito de ecologia é transdisciplinar e aqui defendemos que assume um caráter
paradigmático, no sentido que reflete, como estabelecido por Morin (2001), um
“Conjunto das relações fundamentais de associação e/ou de oposição entre um
número restrito de noções-chave, relações essas que vão comandar-controlar
todos os pensamentos, todos os discursos, todas as teorias” (pag. 258), ou
seja, funcionam como filtros que orientam o foco de nossa atenção e estruturam
nossa visão de mundo. Esse parâmetro-implicação estabelece que a perspectiva
transdisciplinar é inerente a
essa pesrpectiva. Mais detalhes decorrentes dessa implicação
serão discutidos mais abaixo em termos das conexões estabelecidas.
Essa visão paradigmática que se
concretiza em uma perspectiva da ecologia enquanto disciplina, é a que as
coisas não possuem propriedades intrínsecas, todas as propriedades fluem de
suas relações. Isso é, entender as propriedades das partes a partir da
dinâmica do todo, pois essas relações são relações dinâmicas, a única maneira
de entender a parte é entender a sua relação com o todo. Desse modo, uma
segunda implicação é o foco nas relações, foco esse que deve ser entendido
tanto no seu sentido amplo, ou seja, relação entre fenômenos a serem estudados, tanto
quanto no seu sentido estrito, enquanto relacionamento interpessoal. Em
um caso com em outro a unidade de análise está
dirigida para o que ocorre entre. Desse modo, para fins de estudo do
desenvolvimento, o relacionamento interpessoal se
torna um objeto privilegiado.
Outra decorrência
do privilégio do relacionamento interpessoal no estudo do desenvolvimento está
em assumir que unidade
mínima de análise é a díade. Essa determinação não implica em negligenciar a
existências das características do sujeito como
um fenômeno a ser descartado, mas que tais características devem ser elas
próprias contextualizadas, ou seja, tais características só podem ser
concebidas enquanto resultantes de relações de propriedades do sujeito (pro
ex., neurofisiológicas ou em termos conceituais, cognitivas e afetivas)
reveladas dentro de contextos relacionais, tal como o diádico, institucional ou cultural.
O foco nas relações implica também em
estabelecer conexões, ou em outras palavras contextualizar. As conexões podem
ser estabelecidas entre sistemas menores, como neurofisiológico, com maiores, por
exemplo, o de uma relação mãe–criança, uma relação maior
em que esta relação mãe-criança se situa (sistema familiar) e uma rede de
relações em que esta família compartilha (rede de apoio ou
vizinhança) ou uma cultura. É evidente que essas conexões perpassam por
conceitos de diferentes disciplinas, da química à fisiologia, da fisiologia à neuro, da neuro á psicologia, da psicologia à sociologia, e
assim por diante. Desse modo, a perspectiva ecológica implica em perpassar por
um conjunto de barreiras de disciplinas artificialmente delimitadas, sobrepujar
territórios disciplinares, pois os fenômenos do desenvolvimento em uma
perspectiva ecológica não são propriedades de uma disciplina particular. Nesse
sentido, seria mais adequado falar em ciência do
desenvolvimento humano como um espectro de um
conjunto de disciplinas relacionadas.
Por final a última implicação
que pretendo abordar refere-se a mais complexa e difícil de um cientista optar,
pois no seu treino fracionado do conhecimento foi acostumado com as clássicas
separações entre conhecimento teórico e prático, entre a oposição da ciência
básica com a aplicada. No limite, assumir uma perspectiva ecológica sobre o
desenvolvimento pressupõe suplantar os limites estanques entre a academia e a
vida cotidiana. Se pensarmos no conjunto de redes de conexões envolvidas
em qualquer objeto de estudo, no último estremo o cientista é forçado assumir
uma postura ética e politica. De modo que, não
basta assumir uma postura ecológica no micromundo da academia sem refletir
sobre as conexões que estão implicadas no seu conhecimento
produzido. No limite em um elo que defini responsabilidades
sobre o seu fazer científico. É
neste sentido que o elo da cadeia criada se volta recursivamente sobre o seu
objeto de estudo e fecha-se um ciclo que realimenta a opção por um objeto e
problema de investigação. Neste caminho, não há mais espaço para a produção de
um saber asséptico, para uma ciência neutra e o cientista vê a sua ação
científica contextualizada por opções que irremediavelmente tem de tomar.
Referências Bibliográficas
CAPRA, F. (1996) A Teia da vida: Uma compreensão
científica dos sistemas vivos. São Paulo : Cultrix.
MORIN, E. (2001). Ciência como consciência. Tradução de:
Maria D. Alexandre e Maria Alice Sampaio Dória. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil.
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